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30 de janeiro, festa dos 3 Santos Doutores e de São João de Saint-Denis

Foto do escritor: Fraternidade São NicolauFraternidade São Nicolau
Ícone dos Três Hierarcas Sagrados. De Lipie (séc. XVII, Museu Histórico em Sanok, Polônia).
Ícone dos Três Hierarcas Sagrados. De Lipie (séc. XVII, Museu Histórico em Sanok, Polônia).

Propomos a leitura de uma homilia de São João de Saint-Denis para esta festa dos 3 Santos Doutores.


Homilia de 30 de janeiro de 1955

Festa dos três santos doutores

São João de Saint-Denis


Epístola: Rm 13, 8-10

Evangelho: Mt 8, 23-27


Hoje é o último domingo depois da Epifania e já nos aproximamos de outro período litúrgico, outro ciclo da Igreja: a Quaresma, seguida pela alegria da Ressurreição. No entanto, hoje celebramos três grandes Doutores da Igreja: São Gregório, o Teólogo, São Basílio e São João Crisóstomo, e é principalmente sobre essa festa que quero falar. Que Deus me conceda as palavras para exortá-los a seguir seu exemplo!


Esta festa foi instituída em Constantinopla por causa das disputas entre os gregos, onde alguns preferiam São Basílio, outros sustentavam que São Gregório era superior, enquanto outros juravam apenas por São João Crisóstomo. Um dia, o Patriarca de Constantinopla teve uma visão dos três doutores, onde eles lhe disseram, à semelhança de São Paulo: "Não digais: eu sou de Paulo! e eu de Apolo! e eu de Cefas! Somos diferentes, temos coroas diferentes no Céu, mas somos iguais; celebrai-nos juntos e cessem essas discussões vãs."


Assim, após a semana de orações pela união das Igrejas, a Igreja gosta de celebrar os três doutores unidos e rezar por todos. Nós também temos frequentemente discussões inúteis dentro da Igreja. Temos preferências, fazemos distinções. É bom para nós recebermos essa lição: rezar pela união das multiplicidades na unidade, preservando todos os caminhos — caminhos diferentes segundo os povos, as nações e as pessoas. Todos os caminhos levam a Deus: o de um asceta ou de um sacerdote, o de um leigo ou de um trabalhador; seja mulher ou homem, ocidental ou oriental, alma contemplativa ou ativa, apóstolo da caridade ou profeta, mártir ou confessor — todos têm seu lugar. Todas as tradições e todas as nuances são agradáveis diante de Deus!


Os caminhos dos três doutores foram muito diferentes entre si. Vejamos o de São Basílio: este homem é uma rocha, as tempestades não podem detê-lo. Muitas vezes, abandonado por todos, até por seu amigo mais próximo, São Gregório, o Teólogo — uma alma contemplativa que o repreendia por arrancá-lo da contemplação —, rejeitado pela Igreja Romana, incompreendido até por Atanásio, o Grande, ele dizia: "Estou sozinho… Não! A Santíssima Trindade está comigo, portanto, jamais estarei só."


Ao lado dessa rocha, encontramos São Gregório, o Teólogo: ao mesmo tempo frágil, mas fortalecido pelo Espírito Santo que nele habitava. Este poeta desejava apenas afastar-se do mundo, cantar a Santíssima Trindade; era como uma águia que queria alçar voo para os céus, mas as circunstâncias o obrigaram a trabalhar na terra. Esse trovador da Trindade foi forçado a presidir concílios contra sua vontade, e esse grande orador pregava em uma pequena igreja para poucas pessoas, enquanto os hereges se aglomeravam nas grandes catedrais. Quantas vezes nele se cumpre o salmo: "Minha alma escapou como um pássaro do laço do caçador" (Sl 124,7).


E São João Crisóstomo, que preferiu ser exilado, caluniado e maltratado pelos ricos, porque não suportava sua falta de caridade. Ele fechou as portas de sua igreja à imperatriz, porque ela havia se apropriado do campo de uma viúva. Esse defensor da justiça, esse amigo dos pobres, essa boca de ouro!


Sim, todos os caminhos são válidos, e um não é superior ao outro. Esta festa nos lembra que não devemos amar no próximo apenas o que nele se assemelha a nós, mas sim aquilo que Deus deseja para ele. Cada um carrega sua cruz: um deve rezar por muito tempo, outro por pouco; um deve refletir, outro não — e isso se aplica a grupos de pessoas, nações e épocas. Como canta a liturgia de São Germano: "Que toda tribo, toda raça, toda nação O aclame!" Tudo está em Cristo: Nele está a plenitude, Nele está a união, Nele está o amor pelas diferenças. Nosso Senhor não está sentado sobre o arco-íris? Devemos educar nosso pensamento para uma visão verdadeiramente católica, que abarca tudo. Que o Oriente ame o Ocidente, que os idosos amem os jovens, e que os jovens não desprezem os idosos. Sejamos verdadeiramente católicos.

No entanto, devemos compreender que nem todas as diferenças são boas ou enriquecedoras, nem todas entram na plenitude de Cristo. Pois Cristo é plenamente homem e plenamente Deus, mas sem pecado. Assim, ao seguir o caminho da plenitude, não podemos esquecer que, embora essa plenitude possa se manifestar em toda a criação, nem todas as diferenças são como aquelas entre os três doutores ou os doze apóstolos, pois também existe o mundo do pecado e da mentira.


Se devemos ser amplos em nossa visão, mais vastos que o oceano, abrangendo todo o universo com nosso olhar, ao mesmo tempo devemos combater sem concessões o erro. O doce São Gregório, o Teólogo, não disse: "Melhor lutar pela verdade do que ter paz na mentira"? Nossa luta, nossa indignação e nosso combate — dentro e fora de nós — devem ser implacáveis para que a verdade resplandeça contra a mentira. Nossa alma deve ser tão ardente nesta luta quanto no desejo de paz na plenitude. Nosso Senhor, que reúne tudo em Si e ilumina até o inferno, disse: "Não vim trazer a paz, mas a espada!" (Mt 10,34).


Esta é a espada que separa a verdade da mentira, o bem do mal, o justo do injusto. Mas essa espada não deve ser empunhada externamente, mas sim internamente. Nenhum povo é totalmente bom ou mau; há bondade e maldade em cada um. Nunca diga que um homem é inteiramente mau. Talvez seja justamente quando ele cai ao ponto mais baixo que está à beira de se tornar um santo. O perigo nos espreita a todos, constantemente.


Assim, a espada deve passar dentro de cada ser e de cada coisa, distinguindo o bem do mal, o verdadeiro do falso, separando o joio do trigo. É essa retidão e essa intransigência na luta pela verdade que nos ensinam os três doutores, que todos lutaram ardentemente pela verdade revelada por Cristo.


Somos verdadeiramente católicos em nossa amplitude e ortodoxos em nossa firmeza na verdade? Temo que não. Ainda não somos plenamente católicos; muitas vezes somos sectários e estreitos, perdendo a plenitude. Por outro lado, diante da verdade revelada, somos muitas vezes indiferentes, negligentes e tolerantes demais. Nossa espada perdeu sua força, e nos tornamos desertores.


Devemos desenvolver gradativamente em nós o verdadeiro espírito católico e ortodoxo: detestando o mal e combatendo o erro, ao mesmo tempo em que ampliamos nosso coração para abraçar tudo em Cristo. Amém!




 

São João, bispo de Saint-Denis (+1970)

Pai da Ortodoxia Ocidental

Hoje, 30/01, nossa Igreja comemora São João, Bispo de Saint-Denis [Eugraph Kovalevsky], responsável pelo renascimento da Ortodoxia Ocidental.


Nascido em São Petersburgo, Rússia, ao meio-dia de 26 de março de 1905, festa do Arcanjo Gabriel. Foi ordenado sacerdote em 6 de março de 1937 pelo Bispo Eleuthère, exarca do Patriarcado de Moscou, na Igreja dos “Três Santos-Doutores” de Paris. Em 11 de novembro de 1964, festa de São Martinho, em São Francisco (EUA) na Igreja da Santíssima Trindade, São João de Xangai e o bispo Théophile Ionesco da Romênia o consagraram bispo, sob o nome de João de Saint-Denis, para assumir a responsabilidade da primeira diocese de uma Igreja Ortodoxa Ocidental na França, como seu Primeiro Hierarca. No dia 30 de janeiro de 1970, Festa dos Três Santos Doutores, em uma sexta-feira da terceira hora da tarde, Deus chamou a si seu bispo exausto por intermináveis ​​perseguições eclesiásticas e quase meio século de luta ininterrupta pelo renascimento da Cristianismo Ortodoxo Ocidental.



Leia um brevíssimo relato da obra de São João de Saint-Denis. Acesse: https://www.saonicolau.org/post/são-joão-bispo-de-saint-denis-1970-1



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