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A ressurreição do filho da viúva de Naim

Reflexão sobre o Evangelho do 15º Domingo após o Pentecostes


📖 Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 7, 11-17


Naqueles dias, Jesus foi para uma cidade chamada Naim. Os seus discípulos e uma grande multidão foram com ele. Quando ele estava chegando perto do portão da cidade, ia saindo um enterro. O defunto era filho único de uma viúva, e muita gente da cidade ia com ela. Quando o Senhor a viu, ficou com muita pena dela e disse:

— Não chore.

Então ele chegou mais perto e tocou no caixão. E os que o estavam carregando pararam. Então Jesus disse:

— Jovem, eu ordeno a você: levante-se!

O jovem sentou-se no caixão e começou a falar, e Jesus o entregou à mãe. Todos ficaram com muito medo e louvavam a Deus, dizendo:

— Que grande profeta apareceu entre nós!


Deus veio salvar o seu povo!

Essas notícias a respeito de Jesus se espalharam por todo o país e pelas regiões vizinhas.


Te louvamos, Senhor.

 

🙋🏽‍♂️ Reflexão do Evangelho

por Mons. Jonas, exarca


"Quando ele estava chegando perto do portão da cidade, ia saindo um enterro. O defunto era filho único de uma viúva, e muita gente da cidade ia com ela. Quando o Senhor a viu, ficou com muita pena dela e disse: — Não chore" (v. 12-13).


Estas poucas palavras, "Não chore", abrangem todo o propósito da vinda de Cristo ao mundo. A comovente leitura do evangelho de São Lucas nos lembra que Jesus veio para enxugar nossas lágrimas, para suavizar nossa dor e para aliviar o fardo da vida. Só podemos imaginar como deve ter sido dolorosa a dor da viúva a caminho do cemitério para enterrar seu único filho. São Lucas nos conta que "muita gente da cidade ia com ela", mas não importa quantas pessoas estavam ao seu redor, ela agora estava sozinha e ciente apenas de sua dor e tristeza.


Na bela cidade de Naim, na região da Galiléia, tudo o que ela podia ver eram duas sepulturas - a de seu marido e agora a de seu único filho. Podemos pensar rapidamente que esta é simplesmente a história trágica de uma mulher. Mas não é realmente a história de todos? A vida pode ser bela por um tempo, mas inevitavelmente chega o dia em que não é mais assim. Há sofrimento; há problemas; há guerras; há fome; há morte. O resultado de tudo isso é o luto - uma experiência totalmente dolorosa que todos nós devemos enfrentar em algum momento da vida.


Mas como se lida eficazmente com a dor? Do século XX pra cá vivemos imersos em "drogas milagrosas". Existem poucas dores que a ciência hoje não pode atenuar ou eliminar completamente com medicamentos. No entanto, não há nenhum comprimido ou sedativo que possa aliviar a angústia, a solidão e o sofrimento de um coração enlutado e partido. As autoridades médicas nos dizem que a má administração do luto causa todo tipo de doença, desde úlceras a psicose. Pode até levar ao suicídio. Algumas pessoas acreditam que a maior cura para o luto é o tempo. No entanto, o tempo sozinho não vai curar completamente o luto. O tempo pode trazer coisas terríveis para o luto. Ele pode transformá-lo em ressentimento ou amargura que pode envenenar o corpo e a mente. Se quisermos curar a dor, devemos cooperar com o tempo de forma construtiva.


Um dos erros mais graves que podemos cometer é recusar expressar nosso pesar ou mantê-lo engarrafado. É um luto tão contido e sublimado que causa toda sorte de enfermidades físicas e mentais. A psiquiatria moderna tem enfatizado que quando os olhos se recusam a chorar, outros órgãos do corpo começarão a chorar com todos os tipos de doenças. Assim, uma forma muito eficaz de expressar a dor é deixar as lágrimas fluir.


Infelizmente, em nossa cultura, muitas vezes relacionamos lágrimas com fraqueza. Dizemos até: "Se essa pessoa tivesse fé suficiente, ela não choraria". No entanto, as lágrimas não têm nada a ver com fraqueza ou falta de fé. Quando Lázaro morreu, São João nos diz claramente que "Jesus chorou" (João 11,35). E o versículo seguinte diz muito simplesmente, mas profundamente: "E os judeus disseram: 'Vejam o quanto ele o amava'". O fato de Jesus ter chorado nos ensina que a tristeza é natural. Jesus chorou, mesmo sendo Ele a Fonte da vida. As lágrimas são uma expressão de amor. Mesmo a certeza da vida eterna não tirará toda a tristeza do coração humano quando perdemos um ente querido. São Paulo diz: "Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança" (1Tss 4,13). Ele não está dizendo que não devemos lamentar, chorar ou ficar tristes, mas que devemos lamentar com a esperança cristã da ressurreição.


Para facilitar a expressão saudável da dor, nossa Igreja realiza cultos memoriais em sábados específicos ao longo do ano e em aniversários da morte de nossos entes queridos. A Igreja sempre percebeu que, em muitos aspectos, uma pessoa em luto é como uma máquina a vapor. A menos que o vapor possa escapar de forma controlada, a pressão se acumulará e a caldeira explodirá.


Hoje, na leitura do Evangelho, vimos a viúva caminhando atrás do caixão de seu filho a caminho do cemitério. Suas esperanças, suas aspirações, seus sonhos estavam sendo enterrados naquele caixão. A procissão da morte estava atravessando os portões da cidade.


Mas havia outra procissão naquele dia: Jesus e seus discípulos e uma grande multidão com Ele. As duas procissões se encontravam no portão da cidade. "Quando o Senhor a viu, teve compaixão dela e lhe disse: "Não choreis". Então Ele veio e tocou o caixão aberto... E disse: "Jovem, eu te digo, levanta-te". E ele, que estava morto, sentou-se e começou a falar" (vs.13-15).


Havia duas procissões naquele dia! À frente de uma estava um cadáver - simbolizando desespero, tristeza, desamparo e desesperança. Mas à frente da outra estava Cristo, o Eterno, o Salvador, enviado para deter a trágica viagem da humanidade à sepultura e para oferecer esperança, paz, salvação e vida eterna. São Lucas então continua dizendo que depois que o morto se sentou e começou a falar, Jesus "o deu entregou a sua mãe" (v.15). Observamos aqui que o Evangelho diz "entregou-o", em outras traduções deste trecho consta o termo "deu-o". Jesus, ao recriar o jovem, havia adquirido um direito especial sobre ele, e é um presente gracioso que Ele agora fez à mãe.


A passagem do Evangelho de hoje nos mostra a compaixão de Jesus triunfando sobre a morte, e é um dos três relatos evangélicos em que Ele foi visto ressuscitando uma pessoa. Os outros dois relatos envolveram a da filha de Jairo e de Lázaro. Em cada um dos três casos, parece que foi a compaixão que Jesus sentiu pelos parentes tristes que foi a principal causa do milagre (notamos que Jesus nem mesmo pediu à viúva para expressar sua fé - como Ele havia feito antes de realizar outros milagres - mas simplesmente agiu em resposta ao seu pesar).


Agora, se este elemento de compaixão é o primeiro a ser enfatizado, não se pode ignorar que os milagres da ressurreição também têm outra causa: eles demonstram que Jesus tem todo o poder sobre a vida e a morte. Alguns detalhes do Evangelho de hoje lançam luz sobre este poder: há a autoridade com que Jesus (por um sinal) parou a procissão; depois a forma solene e imperativa das palavras: "Eu ordeno, levante-se". Este foi um encontro no qual o Senhor da vida enfrentou a morte e a dor humana.


Observamos também que os três casos de ressurreição relatados nos evangelhos cobrem todos os sucessivos aspectos físicos da morte. Jesus curou a filha de Jairo quando ela ainda estava deitada em sua cama, Ele curou o filho da viúva de Naim enquanto ele estava sendo realizado em um caixão, e Ele curou Lázaro que já estava enterrado e em decomposição. Essa "cura" de Jesus é a restauração da vida plena, da vida em abundância a qual Ele veio dar à toda a humanidade. É a ressurreição plena, o abrir os olhos para sa Salvação. O poder de Jesus sobre a morte é absoluto. Isto se aplica tanto a diferentes graus de morte espiritual quanto a diferentes graus de morte física, e os relatos evangélicos da ressurreição indicam simbolicamente como Jesus restaura a vida aos pecadores. "Eu sou a Ressurreição e a Vida", disse Jesus. "Quem crê em mim, ainda que morra, viverá". "E todo aquele que vive e crê em mim jamais morrerá" (João 11,25-26). Amém.

 

Da Homilia de São Jean de Saint-Denis (Eugraph Kovalevsky),

Homilia de 22 de setembro de 1957


A perfeição em Cristo nos guia à felicidade; a multidão seguiu nosso Senhor porque Ele foi a Naim.

E do outro lado, aquele outro lado que se autodenomina o mundo, o que vemos? O mundo é um Naim exterior que dá à luz o desespero. Cristo é tomado de compaixão. Aqueles que estão com Ele e ouvem a palavra de Seus mandamentos também têm pena da multidão enlutada; esta é a única atitude válida do cristão em relação ao mundo. Não indignação com a injustiça apenas, sentimentos artificiais ou julgamento teatral, mas compaixão. Atrás dos aproveitadores deste mundo, os chamados sucessos fora de Cristo, os habitantes de Naim que vivem em felicidade antes da vinda de Deus, é geralmente o caminho para o desespero. Através desta quietude, o luto já está aumentando.

Isto é o que eu gostaria de salientar hoje. Gostaria que você desistisse de uma religião triste, esta crença de que o caminho do Amigo do Homem é difícil. Ele disse: "Meu fardo é doce e meu jugo é leve. Eu sou humilde e gentil de coração. Vinde a Mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu aliviarei vosso fardo" (Mt 11,28-29).

Tudo o que parece pesado: jejum, paciência, coragem, perdão, torna-se na realidade, se o aceitarmos plena e inequivocamente, um jugo, um fardo e uma cruz cheia de consolo. Por isso podemos dizer neste dia, que fecha a oitava da Exaltação da Santa Cruz, que a Cruz é o símbolo, o caminho e a porta para a cidade de Naim, a cidade da felicidade. Amém.



🙏 Oração

Da Oração da Coleta da Divina Liturgia Galicana


Senhor Jesus Cristo, Vós olhais com compaixão para a viúva de Naim que chora por seu único filho e Vós o ressuscitais. Rezamos para que Vossa Igreja se purifique e fortaleça enquanto marcha para o dia de Vosso retorno visível, chorando por seus filhos infiéis e pecadores.

Afastai-nos da corrupção e semeai em nossos corações a semente da ressurreição, Vós que viveis, reinais e triunfais, com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos.

Amém.











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